Com um pouco mais de um ano de carreira, o Big Ocean entrou para a história do K-Pop com sua existência em si só. Isso porque os três integrantes do grupo – Jiseok, PJ e Chanyeon – são todos deficientes auditivos.
O trio fez seu debut em abril de 2024 sob a Parastar Entertainment, uma empresa especializada em agenciar artistas e personalidades com deficiência, e que representa músicos, atores, modelos e atletas com diferentes tipos de deficiência.
“Cada um de nós entrou na empresa de uma forma diferente. Eu fui apresentado à Parastar por um ator surdo muito conhecido chamado Lihoo. Eu acreditava que eu tinha potencial e me incentivou a fazer uma audição”, contou Chanyeon em um papo exclusivo do grupo com o OFF.
“Jiseok conheceu o CEO da Parastar em um evento da empresa, e ele na verdade só estava lá para cumprimentar o PJ, e aquele encontro mudou a vida dele. O PJ já estava na Parastar desde 2020 e trabalhava como YouTuber e modelo. Nós não nos conhecíamos antes de começarmos a treinar juntos, mas nos tornamos um time por meio de confiança mútua, paciência e muito ensaio”, continuou sobre a formação do grupo.
Cada um deles tem níveis diferentes de impedimentos auditivos e trabalhavam em diferentes áreas antes de considerarem a possibilidade de se tornar idols de K-Pop.
“Antes disso eu estava criando vídeos sobre língua de sinais e acessibilidade. A música sempre foi um sonho, mas eu não achava que era possível. O que mais me motivou foi a ideia de que pessoas como nós poderiam estar num palco e ser artistas – não apesar das nossas identidades, mas por causa delas. Eu queria mudar a forma que o mundo vê as deficiências auditivas, não apenas com palavras, mas pela música, visuais e emoção”, contou PJ.
Jiseok continuou: “Eu não tinha nenhum tipo de treinamento formal, mas sempre amei dançar. Eu venho de um background de esqui, o que me ajudou com a coordenação motora e disciplina. Mas foi quando me juntei ao Big Ocean que comecei a treinar de forma séria.”
Os ensaios mostraram efeito, mas foi com a tecnologia como maior aliada que o Big Ocean subiu nos palcos dos principais programas musicais da Coreia do Sul, utilizando relógios que vibram e telas piscantes como metrônomos para acompanharem a música em suas coreografias, além de utilizar a inteligência artificial para ajudar com correção nas vozes.
A escolha de mudar de caminhos e seguir o sonho da música não foi fácil e PJ revelou a preocupação da família com sua escolha em um primeiro momento.
“Não é fácil imaginar seu filho com deficiência auditiva em um palco de K-Pop. Mas quando eles viram quão determinado eu estava e, depois, como as pessoas reagiram às nossas performances, eles se tornaram meus maiores fãs. Eles ainda me mandam mensagem depois de cada performance para dizer que estão orgulhosos”, disse.
Agora, o trio se tornou fonte de inspiração e porta-vozes em pautas de acessibilidade e oportunidade para pessoas com deficiência em todo o mundo, chegando a fazer uma parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS) logo em seu debut para conscientizar o público sobre deficiências auditivas.
“Nós esperamos mostrar que não tem jeito “certo” de ser um artista”, disse Chanyeon. “Seja com a língua de sinais, cantando, dançando ou apenas se expressando… Sua história é importante. Nós queremos que os PADOs, principalmente os que têm alguma deficiência, se sintam vistos. Não apenas como fãs, mas como pessoas com sonhos tão válidos quanto os de qualquer um.”
Jiseok continuou, falando sobre os sonhos e objetivos futuros: “Como grupo, esperamos poder continuar quebrando barreiras e nos apresentar por todo o mundo. Pessoalmente, eu gostaria de coreografar, não apenas para o Big Ocean, mas eventualmente para outros grupos também. Movimento é uma linguagem com a qual eu realmente me conecto e quero continuar crescendo através disso.”
Neste final de semana, o Big Ocean estará no Brasil como atração do festival Anime Friends, fazendo um show na quinta-feira (3) – dia gratuito do evento, com ingressos disponíveis para ser resgatados no site oficial – além de participar de um painel de perguntas e respostas na sexta-feira e serem jurados do concurso Maru Dance Challenge no sábado.
“Vamos apresentar músicas de nossos dois mini-álbuns, incluindo ATTENTION e SINKING, e preparamos versões em sinais das nossas letras para nos conectar com todos. Nosso show é pensado para ser sentido, não só ouvido. Queremos que vocês vivenciem cada beat e cada emoção”, disse PJ sobre a apresentação.
Além da performance, o trio também está buscando se familiarizar com a cultura brasileira. “Estamos aprendendo! Os fãs brasileiros são muito apaixonados e nos apoiam muito online, e começamos a explorar a música e a comida brasileiras e um pouco do português. Sabemos o quanto o Brasil coloca seu coração em tudo – do futebol ao fandom – então estamos muito animados”, contou Chanyeon.
Jiseok aproveitou para mandar um recado: “Obrigado por nos receber com tanto carinho mesmo antes de chegarmos. Mal podemos esperar para conhecê-los.”
No fim do papo, PJ deixou uma mensagem para jovens com deficiências que hoje tem no Big Ocean uma inspiração: “Vocês não precisam mudar quem são para seguir seus sonhos. O que fazem vocês diferentes pode também ser o que te faz brilhar. Siga em frente. Estamos torcendo por vocês!”
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Fotos: Parastar Entertainment