Rodrigo Suricato é uma daquelas pessoas que se enquadram no conceito de artista completo. Cantor, compositor e multi-instrumentista, o carioca ganhou projeção nacional ao participar da primeira temporada do reality musical da Rede Globo, Supestar. Desde a aparição, que abriu diversas portas para o projeto, algumas coisas mudaram, Suricato adotou o formato one man band, ou seja, Rodrigo passou a desenvolver todos os papéis na banda. Além de encarar uma nova fase em seu projeto, ele também assumiu o cargo de vocalista de uma das maiores bandas nacionais, a Barão Vermelho.
Sem deixar Suricato de lado, no ano passado, o artista lançou o álbum Na Mão As Flores, o disco considerado autobiográfico é composto por 13 faixas, incluindo Astronauta, que recentemente ganhou uma nova versão com a colaboração do grupo Melim. O Offstage bateu um papo com o músico sobre o novo single, colaborações, trajetória na música e muito mais! Confira:
OFF: O seu mais novo lançamento é Astronauta, uma colaboração com o Melim. Vocês dois participaram do Superstar, porém em temporadas diferentes, já se conheciam? Como aconteceu esse contato para a parceria?
Suricato: A gente se conhecia de vista, nunca tínhamos trabalhado juntos. Eu gostei muito do som deles, comecei a me interessar pela música que o Melim fazia porque achei bonita, pois é para todos. Eles fazem uma canção sendo composta e podendo ser consumida por qualquer pessoa, tanto que eles têm muitos fãs novos e têm um público de faixa etária mais elevada também. Fiquei com uma saudade disso, de quando você escutava a nova do Lulu Santos, dos Paralamas do Sucesso e essas faixas se comunicavam com todas as pessoas, eram canções sem barreiras e acho que o Melim traz isso. Eles conseguiram isso de uma forma muito bonita, estão trilhando uma trajetória super linda, e hoje são os maiores representantes comercialmente daquilo que chamamos de “soft pop”, eu chamo sempre de folk, porque para mim se há violão e é uma canção, tem influência do folk. Fiquei bastante curioso de saber como que nós funcionaríamos juntos e produzi essa música, toquei todos os instrumentos dela, de uma forma que pudesse atender a identidade de ambos e estou super satisfeito com o resultado.
OFF: Astronauta originalmente faz parte do álbum Na Mão As Flores, o que te levou a decidir fazer uma releitura dessa faixa?
S: Quando você pensa em um disco tem que pensar no todo, no equilíbrio de todas as faixas, um álbum de dez músicas para mim não são dez soluços. No Na Mão As Flores fez sentido ela ter uma versão um pouco mais lenta, mais introspectiva. Porém eu achava que o potencial comercial dessa canção, o potencial artístico não estava 100% resolvido e quando o Melim topou fazer esse featuring comigo, tive a ousadia de ter uma abordagem mais pop, mais pra frente com esse single.
OFF: Você está acompanhando a repercussão? Como está sendo?
S: Está muito legal! Até agora o clipe está com meio milhão de visualizações, a música está sendo escutada pra caramba, na sexta-feira ela estreou nas rádios. A repercussão está sendo bem positiva, o bacana é que dá uma visibilidade maneira para o meu trabalho, eu estava sem gravar há um tempo e lancei um disco novo há pouco, então penso que vai ser legal, será bom para o meu projeto.
OFF: Você está bastante animado com esse lançamento.
S: Sim! Também porque o meu último disco, que acabou de ser lançado praticamente, foi produzido por mim, eu toquei todos os instrumentos, então estava um pouco de saco cheio de mim mesmo. Eu queria realmente estar com outras pessoas, estar falando de artes com outras pessoas, estar fluindo um pouco com outros artistas e essa vai ser a minha premissa para esse ano. Pretendo lançar outros singles mais para frente, com participação de outros cantores que irei definir ainda.
OFF: As colaborações ainda não estão decididas, mas existe alguém que você queira muito fazer uma parceria?
S: Eu tenho muitas vontades, mas vou deixar para revelar depois (risos).
OFF: Como você já mencionou, seu último disco ainda é recente, foi lançado no ano passado e você foi responsável por todo o processo. Conte um pouco mais sobre a criação do Na Mão As Flores.
S: Eu compus ao longo de dois anos aproximadamente umas 30 canções, dessas músicas selecionei 10 para entrar no disco. Quando me desfiz da formação de banda, pois o Suricato não era necessariamente um grupo, para quem só ligou a televisão naquele momento teve o entendimento que era uma banda, porém não era precisamente um grupo e sim, o meu projeto artístico, o Suricato é o meu trabalho solo. Assim que me desfiz da formação de banda, bateria tradicional, queria realmente entrar em um processo criativo mais sólido e introspectivo. Então tive essa ideia de gravar sozinho, pois tenho essa autossuficiência, digamos assim, de poder me autoproduzir, o que é uma coisa muito difícil. Eu não recomendo para quem não tem muita saúde, é um convívio muito intenso seu com você mesmo, contudo, fiquei muito feliz com o resultado. A Universal Music me deu carta branca para que eu gravasse o que quisesse e o álbum tem uma abordagem muito mais pop do que os outros. Costumo dizer que o pop é muito mais uma atitude de fazer com que as coisas aconteçam para muita gente do que propriamente um estilo musical, então fiquei muito satisfeito com o CD. E agora, uma vez com o disco, eu fico mais à vontade para lançar singles ao longo do ano.
OFF: O que te levou a adotar o formato one man band? Como está sendo essa experiência?
S: É uma maravilha! Eu fico tocando parecendo quase que como uma bicicleta porque tenho que sincronizar os pés com as mãos e cantar ao mesmo tempo, e fazer isso parecer interessante artisticamente e não um espetáculo de circo, tem que funcionar com um show de música mesmo. E é muito bom, pois é um formato que venho desenvolvendo basicamente há uns quatro anos, no próprio Superstar eu já levei esse estilo, mas só que com outros músicos. Dessa vez, estou representando as minhas canções dessa maneira e estou muito contente com o resultado, o show é diferente de tudo o que as pessoas estão acostumadas a ver. Primeiro porque essa linguagem “one man band”, ela é muito associado ao folk de rua, ela tem como inspiração os artistas de rua e eu quis trazer uma abordagem um pouco mais para fora, mais pop, misturando com elementos eletrônicos. Então a apresentação tem, por mais que seja uma pessoa só no palco, vários momentos muito distintos, é completamente dessemelhante de um show de violão e voz, não tem nada a ver com isso.
OFF: Estar envolvido em todas essas áreas de criação resulta em um produto de qualidade distinta do que em casos em que o artista não abraça esses processos?
S: São processos distintos. Por exemplo, eu sou um multi-instrumentista, produtor e compositor, tenho um interesse natural de fluir nesse tipo de linguagem. Conheço outros artistas que são muito mais interessados na dança do que no canto, portanto é importante eles estarem performando dessa maneira. Outras pessoas que tem interesse de interpretar as canções no formato violão e voz, creio que tem para todos os gostos, são propostas diferentes. Porém quanto a interação, por estar sozinho, ela é bem diferente, pois eu não consigo me enganar (risos). No processo coletivo até consigo enganar outras pessoas, mas sozinho não sou capaz, eu sei quando está bom e quando não está, e essa busca é maravilhosa ao mesmo tempo. O que é legal é que esse estilo não é o meu formato reduzido, na verdade, ele é o meu formato mais inteiro. Muitas pessoas quando vão para estrada, vão com um formato violão e voz ou apresentação com banda, e o meu show já é completo desse jeito. Venho desenvolvendo isso há bastante tempo e me dá muito gosto.
OFF: Já sabemos que virão alguns singles no futuro, mas podemos aguardar um novo álbum em 2020?
S: Um disco inteiro acho muito difícil de lançar neste ano até porque o processo de composição é muito intenso. Apesar de ter muitas canções para lançar, para colocar para fora, eu quero atender a demanda do mercado de lançar pequenas pílulas ao longo de 2020, pois creio que acaba surtindo um pouco mais de efeito no final das contas. Eu sou um artista de disco, de gravar um álbum, porém agora não queria entrar dentro desse processo novamente, talvez se fosse um disco de intérprete, mas um CD de composições minhas não. Ao longo do ano, vou lançar vários singles escritos por mim e com parcerias de outras pessoas.
OFF: O Suricato é uma das principais referências do folk-pop brasileiro. Creio que muitas bandas e artistas se inspiram no teu trabalho. Como é chegar a esse patamar de reconhecimento?
S: É muito legal! Recebo muitas mensagens de artistas novos falando que se inspiram nas minhas músicas, na minha maneira de ver a parte estética da canção e tudo, recebo isso todo dia. Dá um orgulho danado me comunicar com a galera que está vindo, o pessoal que se inspira no som que faço com tanto cuidado, é maravilhoso! É um combustível danado para você seguir. Isso e o público, quando você está em contato com as pessoas, talvez sejam os principais combustíveis. Para mim é incrível, é o reconhecimento de um trabalho que foi feito com muito carinho.
OFF: Ainda falando sobre influência. Quais artistas, bandas inspiram o teu trabalho? O que serve de referência para você criar?
S: Não tem ninguém específico, não existe nenhum artista em particular. Eu gosto muito de fazer pesquisas musicais, procuro bastante sobre sonoridades diferentes, formas distintas de colocar a voz, isso que é o grande barato para mim. Não há ninguém específico que tenho escutado ultimamente e por mais que tivesse não teria nada a ver com o meu trabalho. Eu não viso copiar o artista ou mirar em um determinado modelo para adotar não. Mas tem muito som bom sendo feito hoje em dia e eu fico sedento nesse supermercado das plataformas digitais. Gosto de consumir todos os produtos ao mesmo tempo, ouço música de uma forma diferente, então qualquer uma para mim é inspiração.
OFF: Na Mão As Flores é um disco definido como autobiográfico. Você diria que experiências de vida são as principais fontes de inspiração para as tuas criações?
S: Sim! Eu costumo dizer que sim, e esse (álbum) especificamente é. É muito difícil não escrever em primeira pessoa, não é uma história do Eduardo e Mônica. Eu não estou olhando as coisas de outro ponto de vista, é mais ou menos essa a linguagem que gosto de adotar. Tenho escrito coisas diferentes ultimamente, estou tentando outras linguagens, narrar histórias que não aconteceram exatamente comigo. Mas quando você canta sobre algo que viveu, ou pelo menos que assistiu, dá um pouco mais de embasamento na hora de interpretar as canções, consegue passar uma profundidade maior daquilo que está cantando, não sei se isso exatamente funciona para as pessoas, gosto de acreditar que sim.
OFF: Atualmente, você também é vocalista do Barão Vermelho. Como você divide o seu tempo entre esses dois projetos? Como está sendo essa adaptação?
S: Agora estou com o time completo, porque o Barão Vermelho é um projeto coletivo, é uma enorme democracia com gente que eu adoro. Amo trabalhar junto com eles, mas não estaria satisfeito na banda se as coisas não estivessem andando com meu trabalho. Sou um bicho coletivo e também um bicho solitário, portanto é o melhor dos dois mundos para mim. É bacana estar junto com eles e é legal estar criando as minhas coisas no meu tempo, no meu silêncio, é o projeto coletivo mais bacana que já vivi. Não tive isso, esse tipo de relação com banda nenhuma que montei com o Suricato até porque são pessoas mais maduras, ninguém ali é garoto; eu me relacionei com muitos meninos ao longo da vida e sei como às vezes dá um trabalho. É muito bom, fico muito feliz de poder interpretar essas canções antigas do Barão Vermelho e nós acabamos de lançar um disco também, então está sendo um momento muito produtivo, tem muita canção minha voando por aí.
OFF: Acredito que deve ser uma honra ocupar o lugar que já foi de Cazuza e do Frejat. Como está sendo essa experiência?
S: É uma honra danada, é um privilégio! Se a gente pensa muito, a gente não faz. É um lugar tão emblemático que se começamos a pensar nas coisas de uma maneira muito romântica, como as pessoas percebem de fora “caramba! A banda que já teve o Cazuza”, talvez eu não entrasse de tanto nervoso que eu poderia ficar (risos). Mas, enfim, está sendo uma maravilha estar com eles.
OFF: Estamos no fim janeiro, ainda tem muita coisa pela frente. Você já comentou um pouco sobre os seus próximos passos. O que mais podemos esperar de você em 2020?
S: Nos próximos meses vou me concentrar realmente em fazer esse Astronauta passar de Plutão (risos). Irei me concentrar bem nos singles, esse entrou nas rádios na sexta-feira, vai começar a tocar nas emissoras. Estou muito feliz com o apoio da gravadora, o clipe está indo super bem, estou muito feliz com a canção. Então estou pensando nos próximos singles, talvez daqui um mês e meio, dois meses, já lançar uma coisa nova e ir indo nessa pegada.
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Reportagem: Victória Lopes