Ele dispensa apresentações, com mais de dois bilhões de visualizações em seu canal do Youtube, mais dez milhões de seguidores nas redes sociais e mais de dois milhões de ouvintes mensais no Spotify, Hungria Hip Hop é um dos nomes mais conceituados no cenário musical brasileiro.
Nascido em uma comunidade carente em Brasília, o rapper não permitiu que sua realidade impedisse que seus sonhos se tornassem realidade. Com muita determinação e talento na veia, Hungria encarou os obstáculos da vida. Hoje com sua música de estilo inovador e de mensagem positiva, o artista de 28 anos arrasta multidões por onde passa, já conquistou prêmios como MTV Miaw e Prêmio Multishow de Música Brasileira, e adicionou parcerias de sucesso com Gusttavo Lima, Claudia Leitte e Lucas Lucco em sua bagagem.
Recentemente, batemos um papo com Hungria sobre sua faixa autobiográfica Um Pedido, história de vida, trajetória na música e planos para o futuro. Confira a entrevista completa:
OFF: Você vem de origem periférica, humilde, o que te motivou a não desistir?
Hungria: O que me motivou a não desistir foi imaginar tudo que eu desejava se tornando realidade. Se eu te falar que nunca pensei em desistir, estaria mentindo, pois já pensei diversas vezes. Mas desde novo, quando era moleque, sempre tive muita fé, acho que o amor de Deus tem uma influência muito grande na minha vida. Comecei o meu trabalho com 13 anos e quando vejo a idade que tenho hoje e quanto tempo demorou para chegar nesse momento, percebo como algo que passou muito rápido, são 14, 15 anos de estrada que passaram depressa. Acredito que quando a gente é focado, está motivado, tem uma fé muito grande e sonha em ver tudo que deseja se tornando realidade, toda dificuldade passa rápido.
OFF: Como a sua família reagiu quando você decidiu ser cantor?
H: Acho que toda família quer o melhor para o seu filho, a prioridade de toda mãe e de todo pai é que ele conclua os estudos. Eu tenho o ensino superior incompleto, porém também me desestimulei um pouco, fiquei naquele meio-termo de concluir ou não. Mas entendo completamente as vezes que os meus pais me puxaram para conversar e falaram que eu tinha que estudar, ser alguém na vida, talvez pelo medo de que aquilo que eu pensava não me dê-se futuro. Acredito que as pessoas costumam entender toda vez que a gente demonstra muita vontade por algo, elas começaram a aceitar e a falar “não tem jeito, ele quer música” e foi aí que tudo aconteceu. A minha família ao mesmo tempo que queria que eu finalizasse os estudos, ela também me favoreceu bastante com a música, como eu tinha tempo, estava tudo certo, dever cumprido, ia para o estúdio gravar sem problemas. Quando realmente abri o jogo, larguei a faculdade para trás e comecei na música, deixei bem claro o que queria. Era um risco que eu corria, penso que sem ele não existe vitória, nós temos que correr riscos para escrever o capítulo que a gente quer.
OFF: E agora você é um dos rappers mais bem sucedidos do Brasil, com milhões de visualizações, streamings e seguidores. Como é ver que o teu esforço teve um resultado tão positivo? Esperava chegar a esse patamar?
H: Na verdade, eu tinha certeza que ia chegar! Tenho convicção de que isso é só um pouco do que está previsto por Ele, os planos de Deus são muito grandes, penso que é só o início do que ainda vai acontecer na minha vida. É algo realmente gratificante e eu só tenho que agradecer muito a Deus, falar a Ele que o que aconteceu comigo, por mais que eu tivesse e tenha fé, nunca vou deixar de ser um grão de areia diante da presença d’Ele. Então para mim isso é muito da hora, mas também é muito normal ter a permissão d’Ele na minha vida e isso me faz ter respeito aos planos de Deus e também me proporciona equilíbrio de pensamento. Eu não me sinto melhor que ninguém, não me considero de maneira nenhuma superior aos outros, acredito que até pelo fato que a minha família sempre me manteve com os pés no chão e por todo esse temor que tenho a Deus. Tive a permissão d’Ele para conseguir o que tenho e na hora que Ele quiser, Ele tem o direito de me tirar tudo também.
OFF: Você foi bastante criticado por não usar o rap como plataforma de protesto, não cantar sobre temas como criminalidade e política. Como você lidou com isso e por que optou por falar sobre coisas positivas nas suas músicas?
H: Lidei de uma maneira muito tranquila diante disso aí. Acho que até hoje falam da minha vida e eu comecei a entender que não existe nenhuma pessoa de sucesso que os outros não vão criticar negativamente. As pessoas costumam falar mal do sucesso, porque a derrota já esteve ali, ela já aconteceu, mas o êxito existe o tempo todo, então os outros costumam reclamar até porque eles não vão ter a mesma força de vontade, não tem a mesma garra que a gente teve. A saída que eles encontram é falar mal, já que eles não sabem o que nós fazemos, então eu sempre lidei muito bem com isso, sempre trabalhei em silêncio. Lógico que escutei várias críticas, teve um tempo que parei para pensar a respeito e é incrível como uma palavra de mal sobre a minha vida não tem o mesmo poder que dez elogios, então eu podia cortar esses pensamentos para baixo. Assim, eu comecei a trabalhar em silêncio e achei da hora a mudança de mercado até pelo fato que aquele rap ainda existe, mas é minoria, penso que é bacana os caras manterem a raiz, ela não pode morrer. Porém, eles precisam aceitar que chegou a nova fase, se a gente não evoluir, quem é que vai evoluir? A mente vai continuar fechada, o momento vai passar de novo, pois nós estamos em um período maneiro do rap. Se a mente não ser aberta, essa fase vai passar e os caras vão ficar para trás e na real, eu não nasci para ficar para trás, vocês estão sabendo que vou falar para todo mundo “já eras”.
OFF: Como você define a sua música?
H: Eu defino como qualquer música que leva uma mensagem boa, um recado positivo. Existem canções que nos fazem chorar, que nos fazem rir, outras que nos fazem refletir e a minha é nada mais do que uma música que nos traz algo bom, que faz a gente sonhar, talvez correr atrás de algo. Música é algo que nós faz bem e fico grato até por escutar o que chega a mim, eu quando ouço outros artistas, escuto as faixas que me causam um sentimento bom. Então para mim, a música é uma coisa que faz bem e não leva nada de mau para a casa de uma família.
OFF: Recentemente você lançou a música Um pedido, que é sobre sua vida. Com certeza deve ser uma faixa especial para você, sua mãe também participou do videoclipe dela. Que mensagem você quis passar com essa música?
H: Um Pedido é uma música autobiográfica, conta um pouco da minha história de vida e a mensagem que ela está tentando passar é que nós sempre temos que ter um pedido para fazer, todo dia devemos fechar os nossos olhos, fazer um pedido e crer, porque acontece. Tudo o que queremos muito, uma hora ou outra vira realidade. Essa canção me emociona muito pelo fato de ter a minha mãe, de ser a minha história e de ver o espaço que Deus reservou para nós, Deus faz a gente pisar em lugares inacreditáveis. Hoje me sinto completamente honrado e abençoado por toda a minha história, não acho em nenhum momento ruim ter passado na minha vida pelo que passei, não acho ruim as críticas que recebi, acredito até que foi necessário para provar o meu caráter, para me tornar mais forte. Penso que foi tudo uma preparação para chegar onde eu estou hoje e as críticas que surgem agora estão me preparando para o amanhã, para onde eu vou chegar amanhã. Um Pedido é uma música que me emociona e motiva muito, por expressar isso de passado, presente e futuro.
OFF: Podemos esperar outros lançamentos em breve? Quais são os seus planos para este fim de ano e 2020?
H: Eu quero lançar música acústica em novembro, ela já está gravada, já filmei o clipe no Rio de Janeiro e é uma canção de fé também. Mas antes disso, pretendo soltar algum outro trabalho, inclusive daqui a pouco tenho que voltar para o estúdio, eu gosto de sempre estar lá. Mas ano que vem, eu quero lançar o meu DVD, vai ser o primeiro da minha carreira e é algo que já está sendo conversado há mais de um ano, um ano e meio, para decidir local, repertório e outros detalhes, acho que vai ser algo muito da hora já que vamos poder deixar o público mais próximo da música e da imagem ali assistida, isso vai ser novidade. Eu não consigo nem falar “vou fazer isso, vou fazer aquilo”, até porque mudo de ideia constantemente.
OFF: Sabemos que você trabalhou em parcerias com Léo Santana e Mano Brown. O que você pode adiantar sobre essas colaborações?
H: A música com o Léo Santana já está gravada, está pronta, então agora depende da gente dar uma acalmada para pôr nome e liberar, para ela receber uma atenção maior. Sobre a faixa com o Mano Brown, nós já fomos para o estúdio. Na verdade, eu com o Mano trabalho de uma maneira muito natural, a gente espera o momento certo da música, da letra, do beat, da batida. Nós nos encontramos direto, trocamos uma ideia sempre e eu acho muito da hora quando as coisas acontecem naturalmente, então a gente já foi para o estúdio duas vezes, nós já temos vários beats prontos e agora temos que ir com calma, aguardar o momento certo para passar a letra dela e terminar esse som.
OFF: Além do Léo Santana, você já trabalhou com diversos artistas fora do rap como Lucas Lucco, Claudia Leitte, Gusttavo Lima. Você acha importante sair da bolha, ser flexível e expandir para novos gêneros?
H: Claro! Acho que até por isso que a gente chegou onde está. O rap estava muito fechado, era uma parada para pregar menos preconceito e era o movimento que tinha mais preconceito dentro dele mesmo. Lá os moleques que são novos na música ouvem dos próprios caras do rap “ah isso não é rap de verdade, p*rra!”, o pessoal é mente fechada. E hoje cadê esses caras que estavam falando b*sta lá atrás? Cadê que não estão representando esses lances com essa satisfação toda? O cara ficou para trás, quem tem mente fechada, não pode ser chato, porque vai ficar para trás. Quem está nessa nossa corrida não vai esperar ninguém e eu estou nessa para chegar na frente também. Quem ficar falando e criticando dessa maneira, com preconceito, vai ficar para trás infelizmente. Acredito que é completamente necessário uma mente aberta para a evolução do rap, ele é uma música como qualquer outra que leva um sentimento e manda uma mensagem. A galera botou na cabeça que o rap é o crime e não é, o rap é um som como todos os outros e é o primeiro gênero que se encaixa em todos os estilos musicais, entra no forró, no sertanejo, no funk, a gente tem que saber disso aí e aproveitar essa versatilidade.
OFF: Com certeza você já realizou muito sonhos, qual foi o mais marcante?
H: Acho que foi dar uma vida melhor para a minha mãe, penso que não há nada mais importante do que isso. Coisas materiais eu já conquistei várias, comprei carro, casa, apartamento, porém o sonho realizado que mais mexeu comigo foi o de dar uma condição melhor para a minha mãe, isso não tem preço que pague, não tem milhão que valha o custo de ver a tua mãe sorrir, isso joga todos os meus sonhos realizados por água abaixo e vai em primeiro lugar com certeza.
OFF: Ainda tem sonhos para realizar?
H: Lógico! Eu sempre quis rodar o mundo todo levando o que eu mais gosto de fazer que é a minha música. De rodar tudo, de visitar e de pisar em vários palcos do mundo e com certeza isso é só questão de tempo, porque todos os acontecimentos até hoje foram só um sopro de Deus na minha vida, então o melhor da vida, o melhor momento ainda está chegando.
OFF: Você deve servir de inspirações para milhões, mas quem te inspira? Em quais artistas você se espelha?
H: Eu admiro certos artistas pelos seus projetos de trabalho, pelos seus propósitos. Mas acho que o que mais me inspira são histórias de vida, não tem nada que me estimule mais do que isso, é algo que mexe muito comigo. Eu sou um cara muito observador, então admito que falo sobre histórias de vida no amor, no trabalho, nas relações. Enfim, histórias de vida são muito da hora para mim.
OFF: Para finalizar, qual conselho você daria para quem está começando no rap?
H: Na real, acredito que todo começo é complicado, acho que inúmeras vezes vai passar pela cabeça o pensamento de desistir, mas é um sentimento comum, não se pode deixar levar por ele. Vai ser complicado, vai ser difícil, mas toda vez que a dificuldade é muito grande é porque a vitória que está por vir é duas vezes maior que ela, então não se preocupe, não se entristeça diante da dificuldade, ela é momentânea e o que está por chegar vai ser bem mais marcante do que ela. Toda dificuldade é necessária para um sucesso sólido, nunca vi um sucesso real sem uma dificuldade muito grande, sem história. Já vi pessoas brilharem por meses com pouca história, mas com uma história intensa já vi pessoas brilharem uma vida inteira.
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Reportagem: Victória Lopes