Current Date:outubro 11, 2024

“Um Dia Qualquer”, nova série do Space, retrata o impacto da milícia na vida de famílias do subúrbio carioca

Já conferimos a primeira temporada da produção que estreia segunda-feira (17).

Um Dia Qualquer é a mais nova série nacional do canal Space, a produção estrelada por Augusto Madeira, Mariana Nunes e Jefferson Brasil tem data de estreia marcada para a próxima segunda-feira (17) às 22h e será transmitida até sexta-feira (21). 

Em cinco episódios de cerca de 25 minutos, Um Dia Qualquer busca retratar sob um viés diferente um tema bastante conhecido no cenário audiovisual brasileiro, a violenta realidade presente nos subúrbios do Rio de Janeiro. Com o auxílio de data, hora e flashbacks de acontecimentos de dez anos atrás — recursos que amarram e desvendam a narrativa atual até o último capítulo — o telespectador conhece não apenas uma história emocionante de drama materno, violência e milícia, mas suas diversas camadas e razões.

Para muitos, o instinto de sobrevivência que os moradores dessas áreas expressam em todos os dias ‘comuns’ devido ao medo, terror  e clima de guerra civil instaurado pela milícia, que controla o local. Isso pode até parecer absurdo ou distante, mas esta é a realidade de muitos brasileiros que vivem à margem da sociedade. O estopim da trama, que se passa em 24 horas, é o desaparecimento do professor e ativista Emerson (Gabriel Leal), filho de Penha (Nunes) e do falecido traficante Seu Chapa (Brasil), morto há dez anos pelo agora ex-policial e miliciano Quirino (Madeira).  Marcada pelo trauma de presenciar a execução de seu amado e pai de seu filhos, Penha atualmente uma mulher de fé, evangélica, começa uma jornada em busca de respostas. Sem poupar esforços, seu amor de mãe a leva a medidas extremas. Neste percurso, ela volta a ser uma pedra no caminho de Quirino, sujeito que de acordo com seu senso de justiça controla e ‘zela’ pela região e pelo futuro de sua família, principalmente de seu filho Beto (Willean Reis).

“O que eu acho que a gente tem de especial é um olhar mais humano para essas causas, a gente tem uma intimidade com os personagens que é diferente. Essa série se passa muito dentro das casas, dentro das intimidades, é bastante mais humana. Eu acredito que isso faz ela diferente das outras produções desse tema. É uma tragédia, a gente pega elementos de tragédia de diversas histórias, mas cria uma história original que também não é distante da realidade, apesar de ser ficção a gente mergulha muito dentro dessa realidade. E o que faz ela realmente ser única e especial é a humanidade, a intimidade e a relação que as famílias têm com essa violência, não é uma história que fala do sistema como principal elemento, mas fala como a relação entre as pessoas é influenciada por esse sistema, as relações mais íntimas possíveis, que são as relações entre pai-filho, mãe-filho, mãe-marido, marido-mulher, isso tudo faz com que essa história seja especial”, conta o diretor de Um Dia Qualquer, Pedro von Krüger, durante coletiva de imprensa.

Para encarnar personagens tão complexos e marcados pelo tempo, a produção de Um Dia Qualquer optou por atores com experiência e versatilidade e por rostos não tão conhecidos pelo público no núcleo jovem, os quais passaram por um longo casting. O processo contou com um teste de elenco acompanhado de uma breve entrevista, um workshop de dez horas para a desconstrução da persona e uma experiência de vivência no bairro. “Eu gostaria de saber quem era aquela pessoa, mais do que o talento que ela tem, até para chegar numa coloquialidade na série. O Willean tinha um vizinho que era miliciano, por acaso a gente descobriu isso durante a entrevista. A Eli Ferreira (que dá vida a Jéssica)  vem de Belford Roxo, ela é uma garota lutadora e na série ela faz esse papel também, não é que eu tenha buscado quem é aquele personagem, porque ninguém é, todos trabalharam para alcançar aquele nível de interpretação”, revela von Krüger.

Coletiva on-line de “Um Dia Qualquer”

Atores negros interpretando traficantes, gente pobre, sofrida e humilde não é algo considerado como novidade, a representatividade afro na televisão e cinema segue sendo um tema importante e necessário até hoje. Com um elenco majoritariamente negro, a equipe durante a conversa com os jornalistas salientou a preocupação em não cair no estereótipo e em juízo de valores.

Morador do Vidigal e cria do grupo de teatro Nós do Morro, Jefferson Brasil fala que muitos acreditam equivocadamente que por vir da comunidade, seja mais fácil desempenhar papéis de criminosos. “É preciso um trabalho, uma preparação para isso tudo, por mais que seja próximo de mim, por mais que eu more no Vidigal, são vidas totalmente diferentes. Eu sou um tipo de pessoa, o Seu Chapa é outro tipo, acho que ele é super humano e tentei trazer isso. Trabalhamos muito para não ter esse estereótipo. Acaba que pensam que fazer cara de mau, estar armado e falando gíria é o suficiente para fazer um personagem de bandido, mas requer muito estudo para humanizar ele. Eu já havia feito papéis com essa característica má, então busquei cada vez mais trazer a suavidade de saber que antes de ele ser bandido, ele é pai de família, ele tem sentimento, ele só não teve oportunidade”.

Inicialmente, Um Dia Qualquer seria um filme, que estrearia em fevereiro, porém devido ao corte de orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), da Agência Nacional do Cinema (Ancine). Ocasionando assim o impedimento de sua distribuição em âmbito nacional e até o momento não há previsão de lançamento. O longa atualmente está sendo apresentado em festivais estrangeiros como o de Buenos Aires, Madrid e Nova York.

Um Dia Qualquer coloca sob os holofotes assuntos relevantes presentes no cotidiano brasileiro e mundial; racismo, violência policial, o poder da milícia, impunidade, são pautas que vem ganhando destaque nos meios de comunicação recentemente, mas que já são pautas e marcas na vida do povo há incontáveis anos. “A cabeça das pessoas muitas vezes está tão tapada que tenho medo que pensem que é ficção, um lugar muito bem feito, mas imaginário. Ela é um contato direto com a realidade que estamos vivendo hoje, espero que abra muitos questionamentos e debates”, comenta Mariana Nunes sobre o momento em que a série chega à TV.

Um Dia Qualquer estreia na próxima segunda-feira (17) às 22h no Space. O projeto conta a produção de Denis Feijão e é uma parceria do canal fechado com a Elixir Entretenimento e Com Domínio Filmes.